Escrevo na esperança de encontrar algum valor para minha vida. Esta intenção parece imediatamente ridícula e destinada ao fracasso quando me situo entre os sete bilhões de indivíduos que vão morrer nos próximos cem anos. No entanto, uma obsessão cotidiana me impele a publicar ideias, memórias e ficções sobre o mundo, acreditando que este esforço deve ser útil de alguma forma. Utilidade é meu primeiro álibi. Cresci ouvindo meu pai dizer “quem não vive para servir, não serve para viver”. Para ele, médico do interior imbuído do sentimento de que seu trabalho era altruísta e necessário, a máxima continha um ideal nobre o bastante para justificar sua vida inteira dedicada à medicina, o que incluiu milhares de madrugadas fazendo partos. No entanto, do ponto de vista de um senhor feudal, o mesmo pensamento certamente teria um significado distinto e sinistro, mas nunca questionei esta ideia com meu pai enquanto esteve vivo. Para mim, a necessidade de ser útil para merecer viver tornou-se um ...