ODE a BRECHT



Primeiro compraram meu voto

Mas não me importei com isso

Eu ganhei uma camiseta




Em seguida compraram vereadores e prefeitos

Mas não me importei com isso

Eu não pago imposto




Depois compraram deputados e ministros

Mas não me importei com isso

Porque fizeram um estádio na minha cidade


Depois compraram senadores, juízes e presidentes

Mas não me importei com isso

Porque político é tudo igual



Agora estão levando embora o país

Mas já é tarde.

Como eu não me importei antes

Ninguém se importa agora.




Paródia do poema de Bertolt Brecht

INTERTEXTO

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.



Mal acabei de postar este blog e recebi um e-mail do amigo Jair Raso, médico neurocirurgião, autor de peças teatrais e escritor, um link para seu blog com outra Ode a Brecht.
Confiram AQUI


Logo em seguida, o amigo Manoel Guimarães alertou-me que talvez o poema não seja da autoria do Brecht e fui conferir, então encontrei uma reportagem de duas jornalistas de Brasília, Andréia Sadi e Priscilla Borges (ver AQUI):

Depois de criticarem o erro de Ciro Gomes, elas dizem que o poema que ele pretendia citar seria de autoria do poeta fluminense Eduardo Alves da Costa e diz:

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Há outros poemas que lembram o conteúdo do texto escrito por Eduardo Alves da Costa. Um é de autoria de um pastor luterano, alemão, Martin Niemöller. O outro, de Bertold Brecht... A confusão entre os autores, segundo entrevista dada por Eduardo Alves da Costa à Folha de S. Paulo em 2003, é comum. O escritor e terapeuta Roberto Freire teria publicado o poema em livro, na década de 1970, atribuindo a autoria do poema ao russo, colocando Eduardo como tradutor do texto.”

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