Como Temer está me tornando ateu

Digo há muitos anos que sou ateu: mentira! Estava me enganando, porque apesar de dizer que não creio em deus, em vida depois da morte, em alma, em espíritos, em fantasmas e nem na mão invisível do mercado, continuei inconscientemente esperando pela justiça divina, aquele momento em que a verdade prevaleceria sobre a mentira e os maus seriam punidos e os bons recompensados pelo seu sofrimento e humilhação. O Juízo Final.

Os anos têm insistido em me convencer do contrário, apresentando-me provas e relatórios extensos sobre os inúmeros genocidas que morreram tranquilos desfrutando de suas fortunas acumuladas por meio do saque, da escravidão e do extermínio de populações inteiras, sem que qualquer remorso ou punição baixasse sobre suas cabeças.

Os exemplos vão de Stalin e seus Gulags, na Sibéria, a Kennedy e suas Baias dos Porcos, em Cuba, dos massacres de Átila, o bárbaro, aos Belgas, os civilizados, que cortavam uma das pernas dos negros que tentavam fugir, do ditador Geisel, que apoiava o assassinato sob tortura de seus opositores, ao milionário Luciano que comprou para deflorar dezenas de garotas virgens de suas famílias pobres em Belo Horizonte.

Quantos nazistas apaixonados pelo seu ditador escaparam dos julgamentos depois da sua derrota na Segunda Guerra, cultivando sua ideologia assassina em outros lugares ou simplesmente disfarçados de executivos de multinacionais alemãs. Sem falar nos seus amigos e admiradores conquistados nas fileiras aliadas, que continuaram a bombardear o resto do mundo depois de Hiroshima e Nagasaki.

Quantos grileiros armados de jagunços e advogados construíram imensas fortunas moendo gente em trabalho escravo, desmatando as florestas e nos conduzindo a uma crise ambiental, para depois desfrutarem seus ouros em luxos inimagináveis, tudo devidamente garantido, pela lei da propriedade privada e do direito de herança, aos seus descendentes por muitas gerações.

A vida tem tentado me alertar mostrando-me inumeráveis exemplos, como Paulo Maluf, que riram melhor e por último, ainda que este riso venha um minuto antes deles ficarem desmemoriados pelo Alzheimer. Para cada poderoso Sérgio pego com a mão na cloaca, milhares de outros Cabrais continuam a saquear o Brasil na terraplanagem secular e perversa conduzida pelos tratores das empreiteiras corruptoras, que semeiam mentiras, miséria, morte e governos de aluguel.

Hoje vejo a tropa de choque de Michel Temer tentando evitar seu julgamento com a compra de deputados usando dinheiro público, manobrando cinicamente advogados caríssimos que debocham da população exigindo provas do ministério público de que o presidente cometera algum crime e, pasmo, escuto o seu argumento principal: o presidente jamais recebeu o dinheiro da mala de seu assessor porque o dinheiro foi devolvido!

Não sei o que acontecerá na câmara nos próximos dias, se os deputados serão convencidos pelo poder da grana, - que só destrói coisas belas, Caetano, - ou se haverá uma chance do salafrário Temer ser julgado no Supremo Tribunal Federal.

Qualquer que seja o resultado, ele será provisório, porque as descobertas recentes de tudo o que vinha acontecendo conosco, na nossa cara, foi uma espécie de gota d’água no meu cristianismo de infância. Aprendi dolorosamente que, ainda que meia dúzia dos bandidos sejam punidos agora, uma parte de nós, desta espécie chamada humana, seguirá descobrindo outras maneiras de se aproveitar dos demais e sairão impunes e felizes no final da história.

Perdi a esperança no Juízo Final.

Comentários

  1. É mesmo parecido com isso: não se pode esperar justiça em lado algum? Não parece haver na natureza. É conceito humano, mas também aí, falha. É conceito platônico, idealista, não da ´natureza humana´, da realidade. O que fazer? Continuar conversando. Procurar bons exemplos que nos indiquem que, pelo menos em alguns nichos, aconteceu o bom.,.,., Abraços.

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